A branquitude não inventou a alfabetização de jovens e adultos- ou – A educação popular não começou com Paulo Freire.

No último dia 19 de setembro o Brasil e o mundo relembrou o nascimento de Paulo Reglus Neves Freire, o conhecido Paulo Freire. O pernambucano mais tarde se tornaria o educador mais conhecido e influente no mundo. Por seus estudos, análises, obras escritas e publicadas, Paulo Freire influenciou o que o mundo passaria a conhecer como Pedagogia Crítica e acabou por ser denominado Patrono da Educação.

Uma das suas obras mais conhecidas é “Pedagogia do Oprimido” e concebeu a educação como libertadora. Ela, para ele, necessita ser libertadora para poder cumprir seu papel. Assim, sua prática didática visava libertar o educando da chamada educação bancária e tecnicista. Por essa visão, o aluno seria liberto criando o caminho da sua aprendizagem. Freire se destacou na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência política e passou a figurar, por tanto, nos meios acadêmicos como uma referência na área da educação popular. Por meio dela se valoriza os saberes prévios de cada comunidade e suas realidades socioculturais na construção de novos saberes.

Sem desconsiderar a importância de Freire, e, inclusive seguindo seus parâmetros propomos esta reflexão.

O que é letramento?

Após a fala de uma companheira/ firmei em meus pensamentos e por parecer de coração/ me peguei em uma profunda reflexão/ letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado/ não é treinamento repetitivo, exaustivo de uma habilidade/ nem um martelo que de forma sistemática/ vai quebrando os blocos da gramática/ letramento é diversão, emoção/ é leitura a luz de vela/ ou lá fora a luz do sol/ com ou sem solidão/ são testemunhos, o futuro, passado e presente/ são noticias sobre o presidente/ artistas e noticias da tv/ mesmo que não aprovemos o que se vê/ é Mônica e Cebolinha interagindo/ e ditos e não ditos dos jornais de domingo/ é receita de biscoito e de macarrão com ou sem molho/ é uma lista de compras na prateleira (para quem tem dinheiro e prateleira)/ recados colados na geladeira/ um bilhete de amor, telegramas de parabéns/ e cartas de velhos amigos/ que estão a galgar seus destinos/ é viajar para países desconhecidos/ sem deixar sua cama/ é rir e chorar com os dizeres de Dalai Lama/ é o Atlas do mundo, a corrida pelo ouro/ sinais de transito, caças ao tesouro/ manuais, instruções, guias para indivíduos/ algo para que não fiques perdido/ letramento é sobre tudo/ um mapa do coração do homem/ um mapa do que você é/ e de tudo que pode ser/ é sentir-se componente de um todo/ é saber-se filhos das estrelas/ parte do universo e um universo à parte/ é ter consciência de que a natureza o gerou/ e de que dela é fruto e não senhor(a)/ é juntar esforços na construção do mundo/ desintegrando-se no outro/ para com ele reintegra-se de novo/ é saber que a humanidade terrena/ surgiu de uma evolução (ou não) e que talvez não seja a única nesta imensidão/ é saber que a liberdade esta em afirmar-se, integrando-se/ estar consciente de que evoluir é lei geral é re-conhecer o UNI-VERSO (e quem sabe) a unidade na diversidade/ então, descobrir que etimologicamente, que “mundus” ´pureza e fervor (e quem sabe) encontrar a paz interior/ pois quando a mente é perturbada/ produz a multiplicidade das coisas/ quando a mente é aquietada a multiplicidade das coisas desaparece/ como o soprar da poeira/ FORÇA COMPANHEIRA/ avante nesta caminhada analítica/ de contornos contornados de política/ saltando ou quebrando muros/ no infortúnio túnel do pensamento/ tentar a tentativa de explicar, desmembrar, o lindo e infinito letramento.

Ironides Rodrigues ministra aula de alfabetização para jovens e adultos inscritos no Teatro Experimental do Negro. Rio de Janeiro, 1945. (FOTO/Reprodução/Alex Ratts).

A questão central é que guardada a incontável importância deste educador, a educação popular não começa com Paulo Freire nos anos 1960. Temos o Teatro Experimental do Negro e Ironides Rodrigues, nos anos 1940, temos os nucleos educacionais tocados pelas Rosas Negras na Frente Negra Brasileira na decada de 1930, dentre outrxs”. Para ilustrar este pensamento compartilhamos duas imagens. A primeira é o encontro de Paulo Freire e Abdias Nascimento no de 1976, em Guiné-Bissau e a segunda é de Ironides Rodrigues ministrando aula de alfabetização para jovens e adultos inscritos no Teatro Experimental do Negro no Rio de Janeiro em 1945.

Paulo Freire e Abdias Nascimento. Guiné-Bissau, 1976. (FOTO/Reprodução/Alex Ratts).

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Lembremos de Antonieta de Barros que alfabetizou “crianças pobres e empregadas domésticas em 1922”.
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“Educação, instrução e alfabetização de adultos no Teatro Experimental do Negro. In: História da educação do negro no Brasil e outras histórias”, de Jeruse Romão.